domingo, 28 de junho de 2009

"A Pequena Sereia"


Esta semana, ouvi de uma colega de trabalho que a estória original de “A Pequena Sereia” é um pouco diferente da versão da Disney que muitos de nós conhecemos.
Tive a curiosidade de procurar a versão original e fiquei no mínimo incrível com o que li.


“A Pequena Sereia”
Hans Christian Andersen

A Pequena Sereia era a filha caçula do rei Tritão, era uma sereia diferente das outras cinco irmãs. Era muito quieta, não era difícil vê-la distante e pensativa.
Desde os dez anos, a Pequena Sereia guardava uma estátua de um jovem príncipe que havia encontrado num navio naufragado. Passava às vezes horas contemplando a estátua, que aguçava ainda mais sua vontade de conhecer o mundo da superfície. Porém esse seu desejo só poderia ser realizado quando completasse quinze anos, nessa idade é dada a permissão para as sereias nadarem até a superfície do mar. Para a Pequena Sereia esse dia especial parecia nunca chegar.
Ela acompanhava a cada ano, os quinze anos de cada uma das suas irmãs, ansiosa para que o seu dia chegasse em breve também, e escutava atenta o relato de cada uma delas sobre tudo aquilo que viram. As irmãs contavam sobre os barulhos da cidade, as luzes, o céu, os pássaros, sobre as pessoas, animais, eram tantas as novidades que só aumentava o desejo da Pequena Sereia de conhecer aquele mundo. A Pequena Sereia queria ver as cores douradas que surgiam no céu, quando o sol de escondia no horizonte. A chuva, com as nuvens cor de chumbo. Conhecer o arco-íris, as flores, as montanhas, as plantas.
Às vezes as cinco irmãs subiam juntas à superfície para passear, e a Pequena sereia ficava triste em seu quarto, no castelo, sentia uma enorme angústia e uma coisa estranha, parecia ter vontade de chorar, embora as sereias não chorem, pois não têm lágrimas. Até que o dia tão esperado chegou, o coração da Pequena Sereia saltitava de felicidade. Recebeu de presente da sua avó um colar de pérolas, símbolo da realeza.
A pequena sereia chegou à superfície na hora do pôr–do-sol. O céu estava dourado com nuvens rosadas. Ela ficou maravilhada com o que via. Ela avistou um grande navio com três mastros e nadou até ele. O céu escureceu e no navio foram acesas centenas de lanternas coloridas. A sereiazinha nadou contornando o navio e, pela escotilha do salão viu pessoas alegres, dançando. Um rapaz em especial, chamou-lhe atenção. Passadas algumas horas, o vento começou a soprar forte. A lua e as estrelas sumiram do céu e começaram a surgir trovões e relâmpagos. O mar estava revolto, ondas gigantescas atacavam o navio. Os marujos assustados, retiraram as velas do navio. As pessoas gritavam assustadas. O navio balançava muito, até que uma onda gigantesca o tombou para o lado. A escuridão foi total. Um raio iluminou o céu e a Pequena Sereia viu pessoas gritando e tentando se salvar nadando. De repente a sereiazinha viu o príncipe. Ele estava se afogando. Ela sentia que tinha que ajudá-lo. Ela nadou entre os destroços do navio e o alcançou. O jovem príncipe estava desmaiado. Ela segurou firmemente, mantendo a cabeça dele para fora da água, e flutuou com ele até a tempestade passar.
Ao raiar do sol, a sereiazinha verificou que o príncipe respirava tranquilamente. Ela ficou aliviada em ver que ele estava bem, ficou tão contente que o beijou. Nadou com ele até uma praia, o dentou na areia e escondeu-se atrás das rochas. Ela viu que existia algumas casinhas por perto, certamente alguém o encontraria. Logo uma jovem apareceu na praia e foi caminhando na direção do rapaz.
O príncipe, que até então, estava desmaiado acordou e sorriu para a moça. A moça correu para buscar ajuda e em pouco tempo o príncipe foi levado ao vilarejo. A sereiazinha ficou aliviada por ter salvado o jovem, mas ficou triste pois temia não vê-lo novamente.
A Pequena Sereia voltou para o seu castelo no fundo do mar. As irmãs a encontraram triste e quieta. Após longa insistência das irmãs, a sereiazinha contou-lhes toda a sua aventura. Uma das irmãs sabia quem era o príncipe e sabia que ele morava em um castelo à beira-mar. As seis sereias nadaram até lá. Esconderam-se atrás de uns rochedos, esperaram até que viram o príncipe e viram que ele estava bem.
A pequena sereia pensava muito no jovem príncipe. Ela daria sua vida para ser humana e encontrar-se com o príncipe nem que fosse só por um dia.
Seu pai, o rei Tritão estava preocupado com a filha, nem as festas no palácio alegravam a jovem sereia. Ela nem cantava mais nas festas, todos adoravam ouvi-la cantar, sua voz era linda. Numa noite, a Pequena Sereia tomou uma decisão: foi procurar a feiticeira do mar.
A feiticeira é uma bruxa, mora no meio dos redemoinhos, cercada de plantas cheias de espinhos e animais peçonhento e perigosos. A sereiazinha acreditava que a única pessoa capaz de ajudá-la a transformar-se em humana, seria a feiticeira.
A feiticeira concordou em lhe dar duas pernas, mas a sereiazinha só se tornaria humana se o príncipe se apaixonasse e casasse com ela. Avisou que a sereiazinha sentiria terríveis dores nas pernas para ao resto da vida e nunca mais poderia voltas ao fundo do mar. Caso o príncipe não se apaixonasse por ela e casasse com outra moça, depois da noite do casamento, o primeiro raio de sol transformaria a Pequena Sereia em espuma. A sereiazinha ficou assustada, mas aceitou correr o risco, pois queria estar com o seu amado. Em troca dos serviços da feiticeira, a jovem lhe daria a sua voz. Mesmo assim, a sereiazinha aceitou a proposta, estava decidida a tentar. A feiticeira deu-lhe um frasco contendo a poção que lhe daria as pernas. Em seguida roubou-lhe a voz.

A sereiazinha não se despediu de ninguém, nadou em direção ao palácio do príncipe. Foi então, que ela tomou a poção dada pela feiticeira. Imediatamente sentiu terríveis dores como se punhais lhe rasgassem a cauda. A dor foi tamanha que a jovem não agüentou e desmaiou.
Quando amanheceu, a princesa acordou, na praia, ao seu lado estava o príncipe, olhando-a curioso e preocupado. A sereiazinha percebeu que estava sem roupa, e possuía duas pernas no lugar de sua cauda. Cobriu-se então com seus longos cabelos. O príncipe quis saber seu nome e o que acontecera. Porém, a jovem não conseguia falar, não tinha mais sua voz. O príncipe a levou para o palácio, onde foi cuidada e alimentada.
A sereiazinha passou a viver feliz naquele lugar ao lado do príncipe. Sofria terríveis dores sempre que andava, era como se algo furasse seus pés. Mas nada era superior a sua felicidade em estar com o seu amado. Cada dia que passava, o príncipe gostava mais da Pequena Sereia. As pessoas do palácio também se encantavam com a Pequena Sereia. Porém o coração do príncipe e seus pensamentos pertenciam à jovem que o encontrara na praia, ele achava que ela o havia salvo.
Um dia a pequena sereia descobriu que o rei planejava casar o príncipe com a filha do rei vizinho. Eles fariam uma viagem de navio para conhecer a futura noiva. A Pequena Sereia ficou muito triste, se o príncipe se casasse com outra ela morreria. Ficou cheia de esperança quando o jovem príncipe lhe confidenciou que nãos e casaria com a jovem escolhida pelo seu pai, pois já amava outra moça.
A sereiazinha acompanhou a família real na viagem. Na hora em que conheceu a futura noiva, o príncipe ficou encantado, era a mesma moça da praia. A Pequena Sereia viu que o príncipe estava apaixonado. Naquela mesma noite ele casou-se com a jovem princesa, a moça da praia. Enquanto todos festejavam, a princesa sofria de tristeza. Foi então para o convés observar o mar. Nesse momento ela viu suas irmãs, todas de cabelos curtos. Deram seus cabelos à feiticeira em troca de um punhal mágico. A Pequena Sereia precisaria matar seu amado com aquele punhal, antes do amanhecer, assim, poderia voltar a ser sereia e viver no fundo do mar. A sereiazinha muito triste pegou o punhal, foi até o quarto do príncipe e vendo-o dormindo tranquilo ao lado da sua esposa, saiu correndo dali.
A sereiazinha tinha um coração bom, e seu amor era verdadeiro, não poderia jamais matar o seu amado. Sendo assim, ela se dirigiu ao convés do navio, já estava amanhecendo. A sereiazinha, então, atirou-se no mar, no mesmo instante o primeiro raio de sol surgiu no horizonte, e assim o feitiço se realizou, a Pequena Sereia virou espuma branca do mar.

De fato eu fiquei meio chocado. Dores insuportáveis, possibilidade de homicídio, final infeliz??? Não tem cara de um tradicional conto infantil.
Conversando com uma outra colega, tive uma visão diferente da coisa. Lendo com olhos de uma pessoa menos sensível, é possível ver uma moral da estória e inclusive deveria sim ser lida para crianças com uma idade um pouco mais avançada. Todo o texto apenas reflete a impulsividade de alguns adolescentes, que são capazes de fazer coisas que os colocam em risco. A feiticeira disse que ela sentiria dores e mesmo assim ela quis; disse também que ela perderia a voz, algo que para ela era muito importante, e mesmo assim ela quis e o fez sabendo que nunca mais veria sua família e que ainda poderia acabar morrendo. Fez o que queria mesmo sabendo das possíveis consequências e no final, quando tudo deu errado, apenas a sua família estava ao seu lado, família esta que ela renegou em nome de uma paixão. Pelo menos teve o bom senso de não matar o seu amado para se salvar, demonstrando assim não ser tão egoísta.
Outros autores reescreveram a estória criando um final feliz para a sereia e o seu amado.
Os Estúdios Disney também fizeram uma versão para esse clássico da literatura infantil. Nesse, a pequena sereia chama-se Ariel, uma sereia alegre, curiosa, cheia de amigos e o final é do jeitinho que muitos sonham: MUITO FELIZ! Ou como diz a minha segunda colega, a mais seca: SEM MORAL DA ESTÓRIA!


Onde sapeei: Q Divertido

7 comentários:

Osório Filho disse...

Quando eu era criança, amava muitoooo o desenho (versão Disney) "A Pequena Sereia". Aliás, desde sempre amei qualquer coisa relacionada a mar, seja ela o próprio mar, o desenho em questão, uma minissérie que tinha na Manchete (que nem existe mais :O ) chamada "O Canto das Sereias" ou "...da Sereia", esqueci, uma outra que chamava "O Farol" etc. Amo o mar.
No desenho, o personagem que mais gostava era o Sebastião, o camarão amigo da Ariel. Talvez por tamanha simpatia ao bichinho, acabei nos últimos anos por desenvolver alergia a camarão, quem sabe por dó de comer algo similar a ele... hahahha. Vai saber né? Adorava a música que ele canta no desenho que diz algo como "... o fruto do meu vizinho parece maior que o meu...". Enfim. Adoro!
Muito bom saber como é a versão original, ainda que mais triste. ;)

Remi disse...

Não achei a conclusão ruim, não! Achei até bem boa! Quer dizer, era óbvio, não era exatamente necessária a conclusão, mas é interessante ver a opinião de duas pessoas sobre um texto! Além do que, apesar de óbvio, eu pelo menos raramente paro pra pensar na moral das histórias, esse final de texto me obrigou a perceber que, de fato, a versão Disney não tem moral.
Por falar em moral, em pouco tempo eu vou escrever uma versão pra dois textos no meu blog: "Os três porquinhos e o lobo mau" e "Os três lobinhos e o porco mau" duas histórias que eu acabei sendo confrontado a duas morais muito diferentes, e que eu achei muito interessante o resultado!

Thayze Darnieri disse...

adoraaava a pequena sereia!
... apesar da minha mémoria não ser das melhores e não me lembrar direitinho! =//

quase "me desmaiei" com esse conto!
... surpreendente os rumos qe um singelo desenho infantil pode tomaar (pq na nossa cabeça o caminho é inverso)! ao menos ela não teve coragem de matar o príncipe (a essa altura, para mim, tudo era possível)!

DiNhO disse...

Só você pra fazer eu ler isso tudo né, Vitor.
Mas super interessante...A Disney sempre tem isso muda tudo.
hauhauahhuahuahahuah

Lembro de uma época do Rei Leão, que muitas pessoas falavam que o filme instigava a Homossexualidade...Pensa?
Enfim, o filme é ótimo com o enredo super bom.


Eu sempre quis ser "Sereio" se é que existe...viver na Atlantida...huahuahha

Saudades amigo.
Cultura é com você mesmo.
Brassaum

Marlon Vila Nova disse...

Geeentee! E eu que achava que essas histórias da Disney eram criação deles mesmo. Adorei!
Apesar de eu nunca ter assistido A Pequena Sereia e não ter um referencial comparativo. Mas imagino que passe longe disso.
Good to know!

Anônimo disse...

Não concordo com uma coisa... O filme da Disney tem uma moral da história só que é outra diferente da original, é uma lição de vida. mais ou menos, fala-nos de uma sereia ambiciosa que não se sente conformada com a sua vida e faz tudo o que pode para realizar os seus sonhos, algo que todos devíamos fazer (:

Vitor Veríssimo disse...

Então Potter, fatos são fatos...