terça-feira, 14 de julho de 2009

Clichê

foto: Thayze Darnieri




Thayze Darnieri




Ela estava totalmente perdida, não aguentava mais levar uma vida sem qualquer perspectiva, repetia dia após dia as mesmas ações, resultado do seu conformismo perante a iminente realização de um destino distante dos seus sonhos. Eis que, de súbito, surge um fio de esperança, e ela se vê automaticamente revigorada na sua nova busca. Entretanto, como nada vem de graça, ela precisaria se esforçar bastante, uma vez que, se tratava de vencer obstáculos desconhecidos. Ela tentou, mas quanto mais tentava menos entendia a lógica daquelas palavras sem sentido. Ela se desesperou. Ele entrou, exatamente pela porta na qual ela planejava fugir. Sem saber, naquele momento, conhecia o herói que a iria salvar dos percalços da sua novissíma aventura.

É, definitivamente, clichê: a velha história do mocinho que heroicamente resgata a mocinha da sua vida sem graça e sem propósitos. Mas é real, cotidiano e rotineiro (ao mesmo tempo)! E me pergunto: o que há de tão ruim em ser clichê? Antes, o que é clichê?

Originalmente, a palavra francesa clichê é o nome dado a uma espécie de matriz para impressão gráfica: uma placa em relevo ou baixo-relevo, fabricada em madeira, borracha, metal ou até nylon, usado para gravar imagens e textos por meio de prensa tipográfica. Trata-se do bisneto do carimbo, no entanto, por ser uma tecnologia dos idos do século XIX detêm um caráter quase artesanal. Portanto, cara por si só, além disso, agrega-se ao preço final a confecção do clichê e o tempo para entrega, em contrapartida, sua maior virtude é a flexibilidade para imprimir em diversos suportes com superfícies irregulares, seja em textura, maleabilidade ou tamanho, entretanto, com acabamento de qualidade superior aos artigos industriais de larga escala.

A partir disso, não se sabe nem onde nem quando, um ser de personalidade no mínimo curiosa, algumas pitadas de imaginação somada à um ótimo senso etimológico fez uso desta palavra pela primeira vez para se referir a algo que se repete com tanta frequência que já se tornou previsível e repetitivo dentro daquele contexto.
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Todavia, essa expressão idiomática de tão utilizada e repetida, desgastou-se e perdeu o sentido ou ganhou o seu próprio significado. Para tanto, o ser humano e a sua sede por eterna originalidade peca quando considera o clichê algo idiota ou bobo, uma vez que, se o considera relevante por que não citar? Só por que milhares de pessoas tiveram a mesma idéia?

Para mim, o esforço para o não-clichê é ainda mais clichê, visto que por mais que corra do estigma não irá adiantar, esse conceito é intrínseco ao existir, protelar é besteira. Viva, publique, experimente, converse e conceitue partindo da sua vontade e assim, por mais que seja clichê é você!






* Thayze Darnieri é a autora do blog verdeelaranja em um dia na qual espera ser Talvez Útil.

5 comentários:

Vitor Veríssimo disse...

Bom, fico realmente lisonjeado de ter no Talvez Últil um post escrito pela autora do Verde e Laranja, post este que há tanto tempo está no ar e se sobrevive é porque merece.

Com certeza o post CLICHÊ está a cara do talvez Útil, porém, sem perder os traços marcantes do blog da autora.

Não imaginava mais da metade das coisas que a acabo de ler e é esta a proposta desse blog, abordar assuntos do cotidiano, ou seja, clichês; coisas pelas quais passamos, olhamos, usamos, pegamos, comemos com uma frequencia rainha e falar sobre elas com o minímo de riquesa, para que então, possamos ve-las com outros olhos e senti-las com outro tato.

Parabéns pelo post Verde e Laranja e a foto ficou bem melhor do que a tinha eu imaginado.

Osório Filho disse...

Eu acho que todo mundo tem de tentar ser ao máximo o que é, independente de ser clichê ou não e, claro, desde que não prejudique alguém com isso...

Clichê arrasa! :)))

Osório Filho disse...

E a foto realmente é ótima... Ah, o mar! :)
E ainda por cima bem acompanhado, neam?! :)

Thayze Darnieri disse...

... fiquei eu lisonjeada em poder escrever para o "talvez útil" e ao construir este post entender qe a conversa deste blog é realmente diferente, uma vez qe, não é apenas dizer o qe penso ou deixo de pensar sobre determinado assunto. é preciso ir a fundo, pesquisar, responder as perguntas qe surgem: ser de fato útil.


vide post de segunda do "verdeelaranja".

Vitor Veríssimo disse...

Pois bem Anônimo, o meu blog não tem espaço para fracos e medrosos, se quiser criticar ou elogiar, faça isso com a cara estampada...bjus